Ouço vozes internas dizendo prá eu seguir em frente, me jogar de cabeça, saltar de bungee-jump, pegar altas ondas. Ouço vozes externas dizendo prá eu ir com calma, colocar a cabeça no lugar, permanecer em terra firme, em águas calmas. Soa o gongo do 147º round na luta do meu conflito interior. E eu que sou de riso fácil, de relacionamento fácil, de confiança fácil. Eu que sou de olhos nos olhos, aperto de mão, beijo no rosto, abraço apertado. Eu que quero intimidade, que quero aproximação, que quero ser necessária. Eu que quero me doar, quero ajudar, quero colaborar. Eu que sou da maneira que não se pode ser. Eu que tinha que ser mais fria, mais calculista, mais cautelosa, mais realista. Eu que tinha que ser mais eu prá não ser os outros. Porque afinal, dentro de mim, eu já nem sei mais quem sou. A hora de mudar chega quando a vida te mostra as consequências que você sofre simplesmente por ser quem você é. A hora de mudar é quando todos os holofotes estão sobre você iluminando seus erros, suas falhas, suas faltas. A hora de mudar acontece quando você percebe que ser para o outro acaba te impedindo de simplesmente ser. A vida pede simplicidade. Eu, ofereço intensidade. E essas realidades, inevitavelmente, se chocam. A hora de mudar chega quando, ao deitar a cabeça no travesseiro, você sente o escorrer de uma lágrima de arrependimento de algo que te aconteceu simplesmente porque você acreditou. A hora de mudar chega junto com a conclusão de que é necessário mudar. Mas como mudar sua essência? Como modificar a natureza? Como fechar o sorriso? Como arrancar o brilho dos olhos? Como conter o coração? A hora de mudar assusta, revolta, encana. A hora de mudar é traiçoeira. Porque acontece justamente quando você pensa que está fazendo tudo certo. Ela chega quando você se vê vivendo em um mundo paralelo onde todas as pessoas são confiáveis, onde todos os seus amigos fariam tudo por você, onde todos os homens são loucos para tê-la, onde todos os olhos estão virados para sua atuação. A hora de mudar remete você ao momento que descobriu a inexistência de Papai Noel, coelhinho da Páscoa e Fada do Dente. A hora de mudar é doída. Mas ela te coloca numa encruzilhada. As escolhas são poucas, apenas uma bifurcação. Quando não, apenas uma: ou você muda ou você muda. De repente, chega a hora de mudar...